Em queda nas sondagens e a enfrentar uma crescente rebelião dos barões regionais do seu partido, a CDU, à chanceler alemã, Angela Merkel, parece restar o campo da política externa, onde é uma das líderes internacionais mais influentes.
Prova de que Merkel não deve ser subestimada foi o "acto de trapezismo", como interpretaram analistas germânicos, o desempenhado durante a viagem oficial de dois dias que ontem concluiu à Turquia.
Esta deslocação decorreu num momento delicado. As relações entre a União Europeia e a Turquia estão em crise, devido à recusa turca em aplicar na plenitude o Protocolo de Ancara, e vive-se uma espécie de "era glaciar" entre a Alemanha e Turquia. No Bósforo, a euforia pró-europeia esmorece e as reformas exigidas pela UE estão paralisadas.
Na Alemanha, país da Europa onde reside a maior comunidade turca, o apoio dos cidadãos a uma adesão turca tem vindo a decair - de 73 por cento em 2004 para 54 por cento em 2006 -, como mostrou uma sondagem recente do German Marschall Fund.
A todo o custo Merkel quer evitar um contencioso grave com a Turquia, que bloquearia a ambição germânica de centrar as atenções no debate constitucional, durante a presidência rotativa dos Vinte e Cinco que a Alemanha irá assumir em Janeiro de 2006.
Foi por isso que, em Istambul, a chanceler usou palavras simultaneamente claras e salomónicas, segundo análises feitas em Berlim. "Como presidente dos democratas-cristãos, sou primariamente a favor da ideia de uma parceria privilegiada com a Turquia", reiterou ontem a chefe de Governo alemã perante os participantes de um fórum económico. Mas, como os pactos são para se cumprir, "nós honraremos todos os nossos compromissos".
Em diversos discursos de política europeia, proferidos este ano, a democrata-cristã deixou bem claro que atribui maior importância ao aprofundamento da integração europeia do que a um novo alargamento.
Todavia, no seio da grande coligação a questão turca não é pacifica. Os ministros-presidentes democratas-cristãos não perdem uma ocasião de sugerir o congelamento do processo de negociações, como o fez Jürgen Ruttgers, "se a Turquia não demonstrar progressos significativos na sua política de reformas".
Edmund Stoiber, ministro-presidente da Baviera, usa qualquer oportunidade para realçar a distância cultural e de valores entre a Turquia e a Europa.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, do SPD, e Kurt Beck, presidente dos sociais-democratas, apoiam sem reservas a adesão da Turquia.
PUBLICO.PT
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