quarta-feira, agosto 30, 2006

Lusofonia, África, Portugal e a Europa

Portugal está adormecido com o sonho europeu, esquecendo que a sua História está também e sobretudo em África. Ou seja, o presente é em Bruxelas mas o futuro será certamente em Luanda. Quando acordar vai ter um enorme pesadelo.
De uma forma geral, Portugal continua a valorizar o acessório e a subestimar o essencial. Por isso, julga que o idioma (eu prefiro falar da língua) é algo que não precisa de ser alimentado, que não precisa de ser valorizado. É pena. Por este andar, não tardará muito que a Lusofonia dê lugar à francofonia ou a outra fonia qualquer.
Em vez de se potenciar a língua como o principal elo de ligação, como factor decisivo de todas as outras vertentes da sociedade globalizada, Portugal pensa que essa é uma vitória eterna. E não é.
No seio da Europa, Portugal não está a crescer. Está a aguentar-se. Apenas isso. E até mesmo em matéria cultural poderia dar, ou voltar a dar, luz ao mundo. No entanto continua a olhar para o umbigo.
Nas comunidades de origem portuguesa, as novas gerações pouco ou nada falam português. Nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) assiste-se ao legítimo proliferar dos dialectos locais e ao galopante êxito do inglês. O Português tenderá (se nada for feito) a ser apenas uma língua residual.
Ao contrário do que fazem franceses e ingleses, os portugueses têm por hábito deixar para amanhã o que deveriam ter feito ontem.
Não existe, na língua como noutros sectores, uma conjugação estratégica de objectivos. Cada um rema para o seu lado e, é claro, assim o barco comum (a Lusofonia) não chega a nenhum porto. Há projectos sobrepostos, e muitas áreas onde ninguém chega. Ninguém não é verdade. Chegam os ingleses e os franceses.
A CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) deveria ser o organismo que, por excelência, poderia divulgar a língua. Está, contudo, adormecida. Quando acordar verá que a Lusofonia já morreu...
É claro que o futuro de Portugal passa também, eu diria essencialmente, por África. Acontece que, nesta altura, a União Europeia continua a mandar muito dinheiro para Portugal. E, ao contrário de outros tempos, Lisboa não está interessada em dar luz ao mundo. Ao contrário de muitos outros países que estão na UE mas também em África. Mas não só.
Ou seja, a China, por exemplo, está a preparar muitos dos seus melhores quadros para que dominem a língua portuguesa. Fazem-no para conquistar os mercados lusófonos. Nada mais do que isso.
De uma forma geral, todos (mais uns do que outros, importa dizê-lo) continuamos à espera que o burro aprenda a viver sem comer. Mas, quando olharmos para o lado, vamos ver que quando o burro estava quase a saber viver sem comer... morreu.
Acresce que Portugal ainda não percebeu que foi o «pai» mas que os «filhos» já são independentes. Os países africanos ainda não compreenderam que o «pai» errou em muitas coisas mas que não é por isso que deixou de ser «pai».
A Lusofonia, essa realidade que em muito ultrapassa os 220 milhões de cidadãos em todos os cantos do planeta, parece condenada a ser ultrapassada, ou até mesmo aniquilada. Parafraseando Luís de Camões, em português se canta o peito ilustre lusitano e, na prática, importa recordar que a ele obedeceram Neptuno e Marte. Além disso, importa dizê-lo, manda cessar (se para tal todos os lusófonos tiverem engenho e arte) «tudo o que a Musa antiga canta». Quando será que, de forma consciente e consistente, Portugal entenderá que «outro valor mais alto se alevanta»? Por culpa (mesmo que inconsciente) dos poucos que não vivem para servir e que, por isso, não servem para viver, continuam os milhões que se entendem em português a comer e calar, amordaçados pela mesquinhez dos que se julgam detentores da verdade.
É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que dirão que não é possível entregar a carta a Garcia. Dirão isso e, ao mesmo tempo, apontarão a valeta mais próxima.
A História do Mundo desmente-os. A História de Portugal desmente-os. Além disso, não custa tentar o impossível, desde logo porque o possível fazemos nós todos os dias. Mas não será com esses que se fará a História da Lusofonia apesar de, reconheço, muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.
Para mim a Lusofonia deveria ser um desígnio nacional. Defender esta tese é, provavelmente, pregar paras os peixes. Mas, creio, vale a pena continuar a lutar. Lutar sempre, apesar da indiferença de (quase) todos os que podiam, e deviam, ajudar a Lusofonia. Será desta? Não creio. Até agora continuam a ser mais os exemplos dos que em vez de privilegiarem a competência preferem a subserviência.
Um amigo, também ele apaixonado pela Lusofonia, fez-me o retrato do que entende ser o mal da nossa (lusófona) sociedade: «Quem trabalha muito, erra muito; quem trabalha pouco, erra pouco; quem não trabalha, não erra; quem não erra... é promovido». Será? Pela experiência, creio que é mesmo assim.
No entanto, penso que não poderá continuar a ser assim, a não ser que queiramos ver a Lusofonia substituída pela Francofonia ou por outra qualquer fonia.
Será isso que, por exemplo, os políticos das pátrias que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa querem que aconteça? Será isso que os empresários querem que aconteça?


Orlando Castro
Jornalista (CP 925)


5 comentários:

Anónimo disse...

"...A Lusofonia, essa realidade que em muito ultrapassa os 220 milhões de cidadãos em todos os cantos do planeta, parece condenada a ser ultrapassada, ou até mesmo aniquilada..."

Interessante, usa-se os 185 milhões de brasileiros para se dar volume na tal da "lusofonia" porém o importante mesmo é a tal da África Lusófona, o Brasil nem é citado neste artiguinho de quinta categoria. Que bom que é assim, porém, não use o povo do Brasil como sendo parte de luso seja lá o que for, nós não somos e nunca seremos luso porcaria nenhuma. Quer falar de quantidade? Então some as populações de Portugal e dos seus queridos paises africanos, deixe o Brasil fora disso. É óbvio que este comentário não será postado, afinal os portugas só adoram ler o que escrevem os que lhes lambem as bolas e não criticas, porém, ainda assim eu precisava desabafar aqui todo o nojo ou melhor desprezo que eu sinto por pessoas como você com esse papinho hipócrita de luso lixo.

Anónimo disse...

Esta tal Laura Panigianni nem sabe o que diz...basta dizer que o Brasil é dos Indios e não dos chamados Brasileiros(entreguem a terra a quem pertence)e....
cale-se que é quanto ganha...

tenho dito

Gonzz disse...

Grande artigo!
Concordo na plenitude.
Laura... como povo nobre e aventureiro, descobrimos o Brasil por mero acaso! Íamos a caminho da Índia como sabe.
Quanto à LUSOfonia, queira ou não, estudou e os seus conterrâneos estudam e continuarão a estudar LÍNGUA PORTUGUESA nas Escolas oficiais!
Mas gente como você merece ouvir que, de facto, do Brasil só chegam jogadores de futebol e prostitutas... em que clube joga, você?

Unknown disse...

A língua portuguesa só não está morta por causa do Brasil, e se um dia a língua tiver uma projeção internacional, será por causa do Brasil também. Convenhamos, sem ofença, que portugal não tem peso político, econômico ou até mesmo cultural para promover a lingua. não estou falando mal da cultura portuguesa, é só uma questão de viabilidade internacional, tem pouca projeção. Ao meu ver, se a lusofonia tiver uma intenção de crescer, terá que usar melhor a ascenção do Brasil no mundo, como fez Inglaterra em relação aos Estados Unidos, terá que passar por cima dos preconceitos linguisticos, parar de reclamar de quem cresce mais na lusofonia ( é o que eu vejo muito nos sitesque abordam a lusofonia). Se continuar com esse puritismo linguistico Hipócrita, sim hipócrita, já que a língua não se modificou ou evoluiu somente no Brasil, e em até mesmo em Portugal ela se modificou não cabendo mais a nenhum pais lusófono acusar o outro de falar mal a língua. Em fim, são essas pequenas coisas que impendem a lusofonia de crescer, e não somente por causa do descaso de portugal e sua pouca projeção internacional.

cia disse...

hello,eu sou o cia e sou angolano, gostei do conteudo e achei bwe porreiro os teus objectivos e criticas, concordo com os brasileiros quando se auto-afirmam como pilar da lingua portuguesa, pois ee justo eles representam 80 porcento dos falantes do portugues e na realidade eu nao dou tanta importancia quando eles falam que falam brasileiro e nao portugues porque na sua constituiçao esta escrito portugues, e mesmo a america tendo um alter ego muito maior que os brasileiros eles nao dizem que falam americano, ee verdade que o brasil ee o pais lusofono mais influente, mas uma correccao nao ee o que mais cresce esse lugar pertence ao meu pais que na decada passada esteve em segundo lugar no crescimento economico, investiguem antes de criticar por favor, para a lusofunia ter expançao realmente vamos depender muito do brasil como ee logico, mas nao so deles, hoje em dia cada vez mais africanos do mali, nigeria, senegal, zambia aprendem portugues nao por causa do brasil e sim de angola, o portugues ee disciplina nos dois congos e na namibia, tambem por causa de angola, apesar do brasil ter uma enorme dimensao populacional e economica, nos angolanos somos o maior parceiro africano da china, ja fomos base militar da russia e temos outra influencia no mundo, mas o brasileiro desta geraçao tem se revelado ignorante e pouco esclarecido e muito orgulhosos, ainda nao sao uma potencia so estao na emergencia, mas ignoram os outros, imaginem se fossem, nao equeçam nao se comportem como a america, o reinado acaba, mas os inimigos ficam, juntos por uma lusofonia melhor.