sexta-feira, novembro 24, 2006

Portugal aproveitará presidência da UE para melhorar relações com a Índia

Portugal deseja melhorar as suas relações com a Índia, que rarearam nos últimos anos, aproveitando, nomeadamente, uma visita presidencial e a sua presidência da União Europeia em 2007, disse João Gomes Cravinho.
"Temos um défice de contactos a nível político e económico com a Índia, mas o ano de 2007 é um ano de grande oportunidade para o relacionamento entre os dois países", afirmou em Berlim o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que efectuou uma visita, na segunda e terça-feira, ao segundo país mais populoso do mundo.
Em Janeiro, o Presidente da República, Cavaco Silva, deverá realizar uma visita oficial à Índia, a segunda de um chefe de Estado português, 15 anos depois da deslocação de Mário Soares àquele país.
Com Portugal na presidência da União Europeia no segundo semestre de 2007, realizar-se-á, em Novembro do próximo ano, a Cimeira UE-Índia, em Nova Deli, em que a delegação da União Europeia será chefiada pelo primeiro-ministro, José Sócrates.
O chefe do governo português deverá aproveitar a sua deslocação para fazer logo a seguir uma visita bilateral à Índia, a primeira a este nível entre os dois países.
Com este conjunto de actividades, Portugal "tem amplas condições para colocar num patamar completamente diferente o seu relacionamento com a Índia", sublinhou João Cravinho, durante uma passagem por Berlim, no regresso de Nova Deli.
Portugal, acrescentou o secretário de Estado, tem muitos temas em comum com a Índia, e tentará também fortalecer as relações económicas com um país que tem 1,2 mil milhões de habitantes, uma classe média entre 250 milhões a 300 milhões de pessoas e está em pleno crescimento.
Do ponto de vista internacional, a Índia tem igualmente um papel crescente a desempenhar, e essa foi uma das razões que levou Portugal a apoiar a candidatura indiana a membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em conjunto com a Alemanha, o Japão e o Brasil.
"Vemos também a Índia como um interlocutor cada vez mais relevante para o continente africano, e como um país-chave para o desenvolvimento da arquitectura de segurança e da arquitectura económica da Ásia", disse João Cravinho.
Por sua vez, a Índia considera que o trabalho de Portugal na União Europeia é de primeira importância" para o relacionamento entre a União Europeia e a Ásia.
Os indianos manifestaram também muito interesse em dialogar com Portugal sobre questões africanas, adiantou João Cravinho, destacando a forma "muito prestigiante" como foi recebido, enquanto representante do Estado português, uma forma diplomática de Nova Deli mostrar o seu interesse nas relações bilaterais com Lisboa.
A questão da antiga colónia portuguesa de Goa, ocupada pela Índia em 1961, em pleno salazarismo, foi, na opinião de João Cravinho, "um episódio triste" da história portuguesa "que não foi preciso explicar às autoridades indianas, porque eles compreendem bem o problema", acrescentou.
O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros aproveitou uma palestra que fez na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, para explicar que o Portugal de 1961 nada tem a ver, em matéria de política externa, com o Portugal de hoje.
"Esse é, aliás, um dos nossos desafios, mostrar à opinião pública indiana o que é o Portugal moderno, porque a imagem, algo retrógrada, do Portugal de 1961, do Portugal derrotado por Nehru, ainda tem alguma expressão" no grande país asiático.
O problema de milhares de cidadãos indianos, nomeadamente de Goa, Damão e Diu, que obtêm nacionalidade portuguesa por meios ilícitos, não foi debatido durante a visita, adiantou ainda João Cravinho.
"Não é um problema político, o que se passa é que há alguns advogados menos honestos que ganham a vida ludibriando pessoas mal informadas, dizendo-lhes que podem arranjar-lhes passaportes ou vistos de residência em Portugal", explicou.
O secretário de Estado garantiu, no entanto, que se trata de "um problema de ordem policial", e que as autoridades portuguesas têm detectado numerosos documentos falsos, e recusado os pedidos de vistos em causa.
João Cravinho reconheceu, no entanto, que a acção das autoridades não bastou para impedir que muitas pessoas "continuem a ser ludibriadas por falta de informação".

AGÊNCIA LUSA

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